domingo, 21 de março de 2010

Emergente

Pensei em falar nada, nada não
Ligar para minha mãe,
dizer um carinho à minha irmã ou a um amigo,
Comentar um filme, uma besteirinha qualquer,
Nada não...
Sou a mulher depois das lidas da casa, que não quer que lhe peçam nem um copo de água, que lhe sujem a pia já maculada,
que abençoa o silêncio só seu, depois que todos se foram, até a próxima refeição,
De mim não sai nada agora sem tirar pedaço, sem doer,
Um desfalque...
o silêncio parece exigir minha alma, até mesmo os mesmos afetos,
lembrei de todos, mas nada, nada de ter com eles,
lembrei deles, de todos eles, mas nada de ontem, de amanhã...
Este é um silêncio de agora, um dia domingo de sol indeciso, eu sozinha de pijamas,
Abujamra falando do Henfil, filha adolescentemente dormindo prá mais de meio-dia,
Não é vazio, é só meio-dia de domingo, é absoluto, é condição.
Um quando de aqui e agora,
É prá ser.
E De repente eu percebi, muito muda, que eu existo demais,
Se eu sei? Não sei,
Sinto,
Silêncio....
Emergente, eu.