sábado, 17 de setembro de 2016

Ô rio São Francisco: hoje eu e quase todas as minhas amigas nos sentimos assim, meio que estamos todas viúvas. Viúvas daqueles sem beleza exata, mas de palavra certa. Viúvas não de provedores, porque a maioria de nós desempenha muito bem este papel: somos viúvas de companheirismo, de conversas, de escutas, da palavra honrada (quem se lembra disso?), viúvas de sermos percebidas e respeitadas como mulheres. Somos hoje as viuvinhas do cavalheiro, que, ainda de que cabelos brancos, tivesse coragem, firmeza, amasse a arte, a natureza, e, no fim do dia, nos tirasse pra dançar. Viúvas da doçura e da humildade que faz um belo homem se vestir de palhaço e ser feliz fazendo os outros felizes.Viúvas, posso falar? viuvinhas de virilidade, de hombridade, que atavicamente ainda atribuímos a traços rudes, voz grossa e a ombros largos. Mas eu alerto: já vi esta característica, a esquecida hombridade, na miudeza de Ghandi, no velho e cansado olhar de Bernie Sanders (aliás, #Feelthebern). E sim, estamos viúvas de homens que tenham menos convicção e mais substância. Ah, a substância! a velha substância abolida pelas figurinhas infames de facebook, pela absoluta ausência de leitura e compaixão (não extamente nesta ordem), pela rede globo, entre outros parças do esquemão. Mas retomando a nossa coletiva e confessa viuvez, estamos bem viúvinhas de mais esperança, viúvas, também, de um país que se despedaça em meio a figurinhas infantis e power point lidos por engravatadinhos, os quais o meu pai chamaria sem cerimônia - e com muitas provas, porque era um excelente advogado - de "piás de bosta". Engraçado... parte o grande artista quase no mesmo dia em que a verdade e democracia também morreram afogadas em juvenil convicção. Todos prematuramente. Ô rio São Francisco...